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O que acontece após a morte física?

RELIGIÃO
Por Raisa Garcia

Só em Campinas, morrem cerca de sete pessoas por dia, média calculada a partir da divulgação diária no site da SETEC, Serviços Técnicos Gerais - Prefeitura Municipal de Campinas, órgão responsável pela administração dos cemitérios e velórios municipais da cidade. No geral, é a família de quem faleceu que fica responsável por burocracias e despesas do sepultamento e da cerimônia que o antecede, articulada a partir das crenças religiosas dos familiares. 

 

No último Censo sobre religião, divulgado pelo IBGE, 86,8% dos brasileiros se declaram Cristãos. Para eles, o corpo humano é constituído de alma e carne, que são separados quando existe a morte física, levando o espírito para a presença de Deus. Rogério Machado foi declarado pastor pela Convenção Batista Nacional e explica que apenas as pessoas que reconhecem, em vida, o Profeta Cristão Jesus como salvador é que terão o espírito a salvo. “O homem nasceu e vai morrer. Cessando o fôlego de vida, cessando as emoções, cessando o pulsar da carne, o que veio do pó voltará ao pó. O espírito volta para Deus, na condição de salvo ou perdido. Se é salvo estará com o Senhor para todo sempre, se é perdido estará banido da face do Senhor”, explica Machado.

Para reforçar a ideia de salvação do espírito, ele cita um versículo bíblico presente na passagem de João 3:36: “Quem crê no filho tem a vida eterna, aquele, porém, que se mantém rebelde contra o filho não verá a vida e sobre ele permanece a ira de Deus”. Já sobre a cerimônia de sepultamento, Machado acredita ser uma maneira de despedida. “É mais para os vivos do que para os mortos. Nós cantamos, oramos, abraçamos o outro. Não há problema chorar a falta da pessoa, mas o que vale é a celebração da vida eterna”. 

Rogério Machado, pastor da Igreja Batista Boas Novas

A tradição bíblica do homem enquanto pó, que volta para a terra, também está presente no Espiritismo, é por isso que os mortos são enterrados, conta Eliana Kaesemodel, do Centro Espírita União e Fraternidade. Entretanto, a doutrina acredita na vida eterna enquanto uma evolução constante do espírito. “A morte não existe, a vida é eterna. É como um degrau da evolução, o ser humano nunca retrocede, ele sempre vai subindo, à medida que vai nascendo e renascendo. Nesse momento estamos em um planeta de transformação e as pessoas estão sendo separadas de acordo com o nível espiritual”, explica.

Eliana Kaesemodel -
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Caio Chiba, praticante budista

Em oposição ao Espiritismo, a crença Budista acredita que o renascimento não é do mesmo ser, mas de uma nova causa e condição, conta Caio Chiba, praticante do budismo japonês. Para essa religião, a cremação é a forma mais adequada de se dispor de um corpo sem vida.

 

“Tudo o que existe é a natureza Buda manifesta, que não é fixa ou permanente, mas cria causas e condições para a formação da vida seguinte. O movimento do ser humano nessa vida é que vai determinar o Karma na próxima. Chiba explica que Karma são hábitos repetitivos que causam tendências de repetição também na vida seguinte, sendo necessário reconhecê-lo para transformá-lo. Essa transformação acontece por meio da observação meditativa, prática comum entre os budistas.

Assim como é garantido nascer, é garantido morrer...

 

O psicólogo Ivan Centelhas compreende o luto como um processo momentâneo de tristeza, que pode variar em uma duração de seis meses a dois anos. Para Centelhas, as crenças religiosas são um forte ponto de apoio na aceitação da morte e na recuperação do luto. E apesar de existirem diversas religiões ou formas de ver a morte, de realizar rituais religiosos e de despedida, o pastor Rogério Machado reflete sobre os pontos em comum das crenças: “Entre nós, há muito mais pontos de convergência do que divergência. Por que eu vou divergir se eu posso trazer você ao ponto em que nos unimos?”, reforça.

Morte e vida severina

E se somos Severinos

iguais em tudo na vida,

morremos de morte igual,

mesma morte Severina:

que é a morte de que se morre

de velhice antes dos trinta,

de emboscada antes dos vinte,

de fome um pouco por dia

(de fraqueza e de doença

é que a morte Severina

ataca em qualquer idade,

e até gente não nascida).

Somos muitos Severinos

Iguais em tudo e na sina...

(João Cabral de Melo Neto)

Animação da obra Morte e Vida Severina, por Miguel Falcão

© 2017 por alunos de jornalismo da PUC-Campinas. Music by Bensound.

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