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Qualquer bom campineiro – principalmente os que habitam a região de Barão Geraldo - já deve ter escutado sobre a "Festa do Boi Falô": uma festa regional que acontece na véspera de Páscoa cuja tradição é saborear uma tradicional macarronada e aproveitar as mais diversas atrações culturais.

 

Porém, por trás da festa há uma lenda curiosa de um fiel escravo, o Toninho. Em uma sexta-feira Santa na época de escravidão, na Fazenda de Santa Genebra, o Barão Geraldo de Rezende havia pedido à seu mais fiel escravo que fosse buscar um boi para realizar uma tarefa. Ao chegar no pasto e tentar puxar o boi que estava deitado descansando, Toninho foi surpreendido pela seguinte fala do boi: “hoje é dia do Senhor, não é dia de trabalhar!”. O escravo em desespero saiu correndo gritando “O boi falô, o boi falô!”.

Histórias
Por Amanda Port

O BOI FALÔ?!

O curioso é que Toninho tinha uma relação bem próxima com o Barão, tanto que, ao falecer em 1904, o Barão comprou um terreno no cemitério da Saudade ao lado do de sua família para que o ex-escravo pudesse ser enterrado com dignidade. Ainda é especulado que o real desejo do Barão era de enterrar Toninho no túmulo de sua família, porém, o receio do julgamento da sociedade o impediram de realizar tal ato, tendo ficado apenas com o terreno ao lado.

 

Se o Boi falou ou não nunca saberemos, mas que o túmulo de Toninho é um dos mais visitados do cemitério e que ele ficou conhecido pelos milagres de curas de doenças isso é visível pelas placas de agradecimento que transbordam sua lápide localizada no Cemitério da Saudade, inclusive a mais visitada de todos os cemitérios de Campinas. 

Cemitérios nem sempre são bem vistos pela associação com a morte. Mas a morte nada mais é que um evento obrigatório na vida de todos, é um encerramento de um ciclo.

 

Porém, com tanto tabu gerado em torno do ambiente, automaticamente as histórias fictícias – lendas urbanas – e as reais também aparecem pelas rodas de conversas das pessoas e são passadas de geração em geração, tornando a premissa misteriosa de um lugar que, de fato, é cheio de histórias.

UM VINHO E UM TRAUMA

Cemitérios costumam mexer com o imaginário das pessoas, principalmente dos jovens. Passados de geração em geração, todos devem ter escutado alguma lenda urbana nacional como o "Homem do saco" e a "Loira do banheiro", além de brincadeiras como o "Jogo do Copo" e o "tabuleiro de Ouija". Sempre todos com aquele ar de desafio que testa até onde a curiosidade de ir atrás das pessoas pode chegar. 

 

Hoje em dia é mais difícil encontrar em nossa nova geração, adolescentes aventureiros haja vista a violência e insegurança dos passeios sem hora pra voltar pelas ruas independentemente da idade, mas encontrar adultos com histórias macabras e sobrenaturais de madrugadas em cemitérios com suas turmas é bem comum.

A funcionária Larissa Vieira, de 39 anos, já se aventurou em cemitérios à noite com amigos para tomar vinho e compartilhar histórias macabras aproveitando o cenário propício.

 

A crença em Maria Jandira - Vera Lúcia Vieira
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DE PROSTITUTA À MILAGREIRA

Localizado no cemitério da saudade, há um túmulo que de longe chama a atenção de quem passeia no meio das mais diversas lápides e túmulos. Cheio de flores e placas agradecendo milagres diversos, Maria Jandira tinha tudo para ter uma história simples e batida de uma prostituta da década de 30 em Campinas, mas aos 23 anos sua vida chegou ao fim de uma maneira não muito bonita.

 

Um de seus clientes havia jurado amor à jovem e prometido tirá-la daquela vida. Para uma garota de poucas esperanças na vida, ao notar que não passava de enganação e ao perceber que o homem sumira, a jovem desolada se trancou em um quarto, jogou álcool no seu próprio corpo e ateou fogo. Aguentou deitada a dor das chamas que provavelmente doeram menos que a dor do coração partido.

As placas e flores do túmulo de Toninho já "transbordaram" e chegam até o asfalto de suas redondezas no cemitério da Saudade

A dona de casa Maria das Graças é católica e acredita nas graças do Toninho escravo e, sempre que pode, leva alguma flor para agradecer.

Um copo e um trauma - Larissa Vieira
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Sua morte – principalmente o jeito tão cruel que foi escolhido - gerou o que falar na cidade na época, seu túmulo virou ponto de visitação e a jovem passou a ser vista como milagreira recebendo anualmente centenas de devotos que acreditam veemente que tiveram suas graças concedidas após o pedido.

O túmulo de Maria Jandira é um dos mais visitados do cemitério, repleto de placas de agradecimento pelas graças recebidas.

E para completar a história, em uma das idas, eles resolveram fazer a brincadeira do copo que não acabou tão bem. Isso já bastou para que os – até então – jovens desbravadores saíssem correndo sem olhar pra trás e arranjarem outro lugar para se reunir, de preferência mais iluminado e com menos pessoas mortas por perto. Se é verdade ou não também não dá pra saber, e é essa a beleza dos “causos” de terror das pessoas.

© 2017 por alunos de jornalismo da PUC-Campinas. Music by Bensound.

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